quarta-feira, 14 de julho de 2010

De flor em flor

Hoje vi um beija-flor que voava de flor em flor. Era pequeno, o pobrezinho, dentro daquele grande jardim. Havia flores nas quais ele se escondia, mas mesmo assim era cheio de graça. Muito colorido, ele, diferente de todos que já vi. Suas asas cintilavam o brilho do sol, que ardia forte no céu. Ausente de qualquer barulho que pudesse vir, fiquei fascinada com o pequeno bichinho. Não pude ter certeza, mas penso que ele caberia na minha mão, se possível. Voava graciosamente, rodopiava como uma bailarina no céu. Era suave como a brisa que vinha de quando em quando. Sentada na grama, não podia ver ou ouvir mais nada além daquele pequenino bichinho. Não há nada melhor do que se encantar de manhã cedo com algo tão natural. Eu sorri. Pois tinha certeza que dali em diante, nada estragaria meu dia: me apaixonara por um beija-flor antes mesmo de abrir os olhos.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Quero

"Quero que todos os dias do ano,
todos os dias da vida,
de meia em meia hora,
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.


Ouvindo-te dizer "Eu te amo",
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas, que me amas, que me amas.
Do contrário, evapora-se a amação,
pois ao não dizer "Eu te amo",
desmentes,
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra.
Nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor."


(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Como quiser

Ah, vai
brinca de amar.
Tira e põe
assim sem questionar.

Vem, me faz amar alguém.
Me faz pensar no bem
sem ter que pensar a quem.

Ah, vai
vamos fazer disso uma perseguição
brincar de cão e gato
sem pensar no coração!

Ah, vai
vamos deixar acontecer.
O que vier, virá
ainda sem o amanhecer.