Era uma típica noite de quarta-feira. Voltou do trabalho tarde, cumprimentou o porteiro e subiu as escadas até o quinto andar. Abriu a porta, escarrou no canto da parede, largou seu terno em cima da mesa e jogou-se no sofá.
Tinha sido um daqueles dias em que ele não pensava em mais nada além de sua cama o dia todo. E, quando chegava em casa, não recuperava forças para chegar até o quarto. Ficava parado alí, na sala.
Suas mãos estavam sujas, suas costas pesadas. Havia passado o dia fazendo tratos e fechando negócios. Mas pior que sua mão ou suas costas, a sua alma estava estraçalhada. Se é que ele podia chamar aquilo de alma.
Pôs a água da banheira da suíte para esquentar enquanto ia atrás uns pedaços velhos de carne que tinha na geladeira. Não foi capaz de comê-los; seria abusar da própria consciência. Fritou alguns ovos e botou-os para dentro.
Colocou mais uma vela na coleção que havia ao lado da janela. Acendeu-a com as mãos no peito, o coração apertado, mas manteu-se firme.
Andou pelos corredores do seu apartamento 4 quartos, no qual moravam apenas ele e algumas outras almas vagabundas.
Pôs o relógio ao lado da banheira, abriu a janela, e deitou-se na água fervendo - sabor de eucalipto.
Olhou no relógio: 23:43. Estava chegando. Fechou seus olhos, esperou sua hora.
23:45. Foi certeiro. O tiro pousou exatamente na cabeça do sujeito. Alguns vizinhos se desesperaram. Mas ele não. Não foi em paz, mas sabia que era justo. Foi sabendo muito bem que pra onde ele iria provavelmente não encontraria nenhuma sequer daquelas velas acesas ao lado de sua cama. Deixou-se ir, sabendo que era o certo a se fazer.
Foi obrigado a deixar seu corpo, assim como já havia obrigado outros bocados e deixá-los também.
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