Estava me lembrando da minha infância um dia desses. Lembrei-me de quando eu ia pra casa da minha vó e chovia.... Parecia sinal de escola: todas as crianças estavam em baixo do bloco imediatamente. A gente escorregava na beirada do piso e o mais legal era chegar antes de o porteiro começar a limpar. Depois que a gente era expulso, a gente ia pra chuva mesmo, brincar na grama, com bolas, arminhas de água...
Bem, nesse mesmo dia em que me lembrei disso, choveu. E eu fui pra casa dos meus primos. Quando eu cheguei lá, senti um tremendo desconforto: cada um estava em um cômodo diferente da casa. Meu tio estava vendo televisão na sala. Minha tia, pintando a unha no quarto. E meus primos estavam no computador.
Senti um arrepio ao ver aquilo. Já estava achando estranho não ter nenhuma criança brincando na rua àquela hora e, quando subo, me deparo com as minhas crianças de frente a um computador.
Não pude fazer nada. Quando dei a ideia de descer pra brincar, fui totalmente repirimida - me senti a criança daquele quarto. Me olharam com total cara de desprezo e falaram que não podiam brincar na chuva, que iriam se molhar e adoecer.
Fiquei chocada e quando cheguei em casa só pensava naquilo. Fiquei pensando se era isso que eles faziam todos os dias: computador. Se era aquela a interação que eles diziam familiar ou se era normal tudo aquilo e eu era a errada na história. Mas depois de pensar muito, eu vi que eu estava certa. Que aquilo não era normal. Que não era tampouco saudável deixar uma criança trancafiada dentro de casa. Pior: não era saudável a própria criança querer ficar dentro de casa.
Acho que o mundo está cheio de "novos conceitos" e eu esqueci de me atualizar. Acho que hoje em dia a diversão da juventude não é o que eu chamava de diversão. Não se vêem mais famílias reunidas aos domingos, crianças brincando de bola nas ruas, jogando confete nos carnavais.
O conceito de diversão agora é ficar em casa jogando video game. É manter a sua roupa e cabelo impecavelmente limpos e arrumados, e não ver mais graças nas antigas brincadeiras de roda. É ouvir funk e ir à festas Disco.
Não consigo ver como serão os jovens do futuro. Todos tão preocupados com o mundo que deixaremos para os nossos filhos... Eu estou mais preocupada com os filhos que deixaremos para o mundo.
Tenho medo da falta de informação, da falta de conteúdo, da falta de humildade e compaixão que nascerá dentro dessas pobres crianças. Queria ser capaz de mudar tudo isso. Queria colocar o mundo dentro de cada um dos nossos futuros cidadãos
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